O Vale do Sousa, há muito qualificado como o “Vale dos Sonolentos”, tarda a emergir da letargia que o atirou para os últimos lugares de qualquer um dos vários rankings de desenvolvimento, seja no contexto das regiões da Europa, seja entre portas nacionais. Os desafios de modernização de ontem continuam aqui a ser os mesmos. De substancial, os índices de desenvolvimento, quando comparados com os das demais regiões, em nada se alteraram. Se estávamos na cauda, agora estamos no rabo, o que convenhamos, de diferente só tem a semântica usada nas explicações deste fado que empurra a região para uma inércia que persiste em reinar. Ontem como hoje, as apostas para o desenvolvimento da região passam por políticas qualificadoras das pessoas para a sociedade do conhecimento; pelas tecnologias, de forma a ultrapassar o atraso científico e tecnológico; pela inovação, antídoto para a dependência doentia e desmoralizante de indústrias há muito gastas e incapazes de acompanharem as exigências da globalização. Políticas que continuam a ser prementes, pese algumas luzes que aqui e ali vão surgindo, mas sempre numa lógica de paróquia, a ver quem ganham a quem, de quem de entre os pequenos é o maior. A região do Vale do Sousa vista a seis, tantos quantos os municípios tradicionalmente agrupados, seja na versão da defunta Associação de Municípios, seja na moribunda, com pena de morte marcada, Comunidade Urbana, continua hoje tão deprimida quanto o era ontem. E no quadro em que a ComUrbe tem funcionando, nada se alterará, quando muito podem os nossos autarcas reforçar os seus laços de amizade, em mais uma ou outra viagem, de trabalho, é claro, ainda que igualzinho aos dos senhores doutores e as suas Convenções além atlântico. No que importa à região, não foi com nenhuma daquelas formas de organização do território que se fomentou a coesão e a solidariedade deste espaço regional. Para demonstrar que o interesse de capela sempre prevaleceu sobre preocupações de desenvolvimento sustentado e de lógica supra municipal, basta atentar nas reacções locais aos anúncios de investimento público ou até privado para a região – a cada proclamação de investimento, a coesão, a solidariedade e a racionalidade da localização do investimento sempre virou batata, preocupando-se cada um em garantir o investimento para a sua terra, numa lógica de bairrismo serôdio e doentio. Estou em crer que a NUT TAMEGA, alargada a quinze municípios, em nada virá alterar o triste fado da região. Continuaremos a ter cada um a lutar por si e a esquecer que o melhor para cada um, só pode ser o melhor para todos. A coesão e a solidariedade territorial serão a chave da viragem que a região precisa. Mas para haver coesão e solidariedade, o quadro legal das novas regiões tem, necessariamente, que passar pela legitimidade democrática dos seus dirigentes. Sem que os órgãos desta nova região resultem do veredicto popular, é certo que cada um dos Presidentes da Câmara não conseguirá olhar para além do umbigo do respectivo concelho, que intuam que em terra de gente pobre, sem união não há força e sem força tão pouco uma IC conseguiremos fazer avançar – há quantos anos o IC 35 está no papel?! E não é nesta região, estaticamente considerada das mais pobres que teremos portagens nas SCUTS? Pois é! Mas que outra coisa esperar, se por aqui persiste-se em enxergar apenas o pequeno quintal de cada um, ao ponto de, passados todos estes anos de experiência comum de organização do nosso território, haver ainda quem tenha dúvidas, quanto à integração dos seus Municípios na NUT Tâmega ou na Área Metropolitana do Grande Porto, (ao que parece, apenas por esta ser mais rica que aquela). E porque o principal problema da nossa região, de todos os nossos concelhos, é a pobreza (a material, dos salários baixos, das insolvências, da fuga para o exterior em busca da vida que aqui persistem em nos roubar, a imaterial, da desqualificação, do abandono escolar) – deixemo-nos de comparações entre nós. O que muito grande nos pareça, em comparação com o dos outros, será sempre coisa pequena! No próximo ano, o país será chamado, por três vezes, a escolher os seus representantes, no Parlamento Europeu, na Assembleia da República e nas Autarquias. Impõe-se que as diferentes bússolas políticas da região comecem a dizer com clareza e com sentido de compromisso, os caminhos que preconizam para este Vale.