Blog da responsabilidade de Nelson Correia, Advogado, Vereador na Câmara Municipal de Penafiel, deputado na IX Legislatura e militante do Partido Socialista
As eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa tiveram dois derrotados.
O primeiro é o sistema político que aos 33 anos dá sinais de cansado, a precisar de reforma urgente.
Os mais de 60% de abstencionistas, demonstram o alheamento das pessoas da política.
Numa eleição disputada a doze, onde para além dos partidos políticos, havia duas candidaturas independentes, a abstenção foi a grande vencedora.
O discurso anti-partidos adoptado pelas candidaturas independente, colheu significativos apoios, mas apenas entre os mobilizados para a política. Nos outros, nos que preferem a bola, a praia ou os centros comerciais, não teve qualquer influência. Não conseguiu despertar para o dever cívico os que persistem em se manter indiferentes perante a res publica.
A vitimização de Carmona, ou o discurso anti-sistema de Roseta, não levou um único Lisboeta às mesas de voto!
Continuaram a deixar em mãos alheias o destino colectivo que também é deles.
Com independentes ou sem eles, os lisboetas, com os demais eleitores portugueses, continuam e cada vez mais, com a certeza que a politica é coisa de políticos. Sinonimo de tachos, favores! Coisa distante, só ao alcance de alguns! Coisa que não vale a pena!
Entendem os eleitores que a politica é como o totoloto: todos podem jogar, mas a muito poucos aproveita. Por isso, não perdem tempo com eleições…Mal por mal, antes apostar no totoloto! As hipóteses de ganhar sempre são maiores! É assim que a maioria dos que não votam pensa!!!
Esta abstenção, com o quadro de candidaturas que a eleição teve, demonstra que muito mais que a crise de confiança nos partidos que tanto se fala, é uma crise de valores.
O que esta abstenção revela, é uma crónica falta de responsabilidade dos portugueses. É a ideia bem portuguesa de se achar que os problemas colectivos se resolvem por si, ou por alguém, por quem não nutrimos grande simpatia, o politico!
É o exercício da cidadania que está em perigo.
A democracia que alguns apregoam estar em perigo, apontando como causa, uma crise de liberdade, está em perigo mas pela indiferença dos cidadãos perante a política.
Com uma abstenção de mais 60% a democracia é a grande derrotada destas eleições.
Depois e só depois, é que os derrotados são os líderes do PSD e do CDS e os candidatos destes partidos.
Os vencedores são António Costa e o PS.
Só que há vitórias que têm um sabor diferente. Ganhar como uma abstenção de mais de 60%, é muito diferente de ganhar com uma participação eleitoral de mais de 60%.
O PS e António Costa sabem isso e por isso a noite eleitoral de domingo não teve a festa.
Não havia nada para festejar. Não pode haver festa, quando a grande derrotada é a democracia…
Mais que festejar a vitória, nestas eleições, até os vencedores tiveram que chorar uma derrota: a da democracia e na democracia não se festeja a humilhação dos que perdem.
António Costa tem a missão de reconciliar os lisboetas com a democracia e com a participação cívica.
Oxalá o consiga.
Portugal ficará mais rico, se assim acontecer.
Como mais rico ficará, se a humilhação da derrota eleitoral da direita, a fizer tornar-se na oposição responsável que não tem sido.